Cidades
Pantanal registrou seca história em 2024 e situação tende a piorar no futuro

Christiano Antonucci/Secom-MT
Apesar das grandes queimadas de 2020, a seca mais severa do Pantanal aconteceu em 2024. De acordo com os dados do Sistema de Alerta de Eventos Críticos (SACE), 2024 apresentou um total de precipitação de 702 mm, sendo que a média dos últimos 24 anos é 1.100 mm. Ainda que o bioma do Pantanal possua uma variação natural dos níveis hídricos – sendo caracterizado por inundações periódicas que moldam sua paisagem e biodiversidade -, o cenário do último ano foi preocupante e pode piorar no futuro.
Segundo o professor e pesquisador de recursos hídricos da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Ibraim Fantin, o uso das terras do bioma associado à intensificação das mudanças climáticas afeta a resistência do Pantanal. Isso sem contar os incêndios que afetaram o bioma. Levantamento do MapBiomas apontou que, apenas no primeiro semestre de 2024, a área queimada foi de 468.547 hectares, um aumento de 529% (+394.121 hectares) desde 2019.
Com a soma de todos esses fatores, a região perde a capacidade de retornar rapidamente à forma original, a fim de minimizar a falta de chuvas. “Quanto mais alterada a bacia, mais frágil ela fica, perdendo a sua ‘resiliência’, que minimiza esses impactos. Já é um ano atípico. Você intensifica com as mudanças climáticas e a bacia está perdendo essa sua capacidade de resistir a impacto. A combinação desses fatores agrava ainda mais a estiagem”, explicou o pesquisador.
Lislaine dos Anjos
Ainda no final do primeiro semestre de 2024, estudo com dados de satélite divulgado pelo WWF-Brasil já apontava que o Pantanal enfrentava a maior estiagem dos últimos 40 anos. Na época em que deveriam ocorrer as cheias, a média de área coberta por água foi de apenas 400 mil hectares – número ainda menor que em 2023, quando a cobertura chegou a 440 mil hectares no período da seca. Sem o esperado pico de cheia e o retorno da condição de seca extrema, os incêndios acabaram começando mais cedo do que o previsto.
A situação é corroborada pelos dados da SACE, que apontam que o registro de diminuição das chuvas no Pantanal começa em 2019, quando nenhum ano apresentou precipitação acima da média. Ainda com os níveis críticos de 2020 e 2021, com 875 mm e 730 mm, respectivamente, 2022 e 2023 chegaram perto, com 1.065 mm e 1.094 mm, respectivamente.
Reprodução/Ibraim Fantim
Situação pode piorar
O futuro, por sua vez, não é promissor. Com a retirada de vegetação nativa e intensificação de eventos hidrológicos extremos – secas e cheias -, é mais difícil para a água se infiltrar no solo e abastecer as bacias subterrâneas.
“O homem pode agravar ainda mais a situação que a gente tem”
Ibraim Fantin
Fantin aponta para a necessidade de preservação de vegetação nativa não só do Pantanal. Para ele, é importante olhar outros biomas que possuem nascentes das bacias hidrográficas presentes na região pantaneira.
“O Cerrado, muitas vezes, é esquecido dentro desse contexto. Ele tem as áreas nascentes das principais bacias hidrográficas brasileiras. O Cerrado é degradado, mas ele tem um papel de armazenamento da água do solo, porque ela precisa infiltrar, umedecer a terra e carregar os aquíferos. Com isso, dá para reduzir o impacto das mudanças climáticas e da falta de chuvas”, afirmou Ibraim.
Além disso, o pesquisador enfatizou a importância da preservação das Áreas de Preservação Permanente (APPs) para a redução dos impactos da falta de chuvas. “O homem pode agravar ainda mais a situação que a gente tem”, alertou.
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