Judiciario
Vereador pressionou para evitar demissão de suspeito de propina
A Polícia Civil identificou uma forte influência política exercida pelo vereador Pablo Pereira (União) no DAE-VG (Departamento de Água e Esgoto de Várzea Grande).
O vereador foi um dos principais alvos da Operação Gota D’Água, deflagrada na semana passada para investigar um esquema de cobrança de propina na autarquia municipal.
Em um dos casos, o vereador tentou barrar a exoneração de um de seus aliados que era acusado de fraude. Como não conseguiu, ele indicou uma outra pessoa, que acabou contratada.
As investigações mostram que o ex-servidor do DAE-VG, Alex Sandro de Proença, teria inserido – em janeiro deste ano – informações falsas por duas vezes no GSAN (Sistema Integrado de Gestão de Serviços de Saneamento), mediante cobrança de propina de R$ 7 mil.
Por conta disso, conforme as investigações, o presidente do DAE-VG, Carlos Alberto Simões de Arruda, comunicou ao diretor comercial Alessandro Macaúbas Leite de Campos que iria exonerar o servidor.
No outro dia, conforme relatos do presidente da DAE, o vereador e o diretor comercial compareceram à sua sala para tentar impedir a demissão de Alex Sandro.
“Na ocasião, Pablo chegou a mencionar que, com essa exoneração, perderia 30 (trinta) votos. Alessandro também se opôs à exoneração. Ambos lhe disseram que as controladoras do DAE perseguiam o Setor Comercial da autarquia”, consta em trecho do inquérito.
Depois desse dia, Pablo fez uma segunda visita ao presidente tentando evitar a exoneração e fazendo um novo pedido: exonerar uma servidora que teria sido indicada por ele, e colocar outra pessoa no lugar. Ambos os pedidos foram negados.
Com as expectativas frustradas, Pablo indicou Eric Damasceno Gomes para ocupar o cargo de Alex Sandro. A demissão de Alex Sandro foi realizada no dia no dia 7 de maio, e Eric foi efetivado em caráter temporário no dia 5 de junho deste ano.
Após a demissão, no dia 3 de junho, Alex Sandro foi nomeado assessor de gabinete do vereador.
“Interesses espúrios”
Para a Polícia, a pressão política para a permanência de um aliado do grupo é a materialização de “interesses espúrios do grupo criminoso”.
“[…] Há casos com atuação direta do investigado [Alessandro Macaúbas] para a perpetuação do esquema criminoso, exercendo pressão junto com seu padrinho político, o vereador Pablo Gustavo Moraes Pereira, com o fim de fazer valer os interesses espúrios do grupo criminoso. Exemplo disso é o episódio envolvendo a exoneração do ex-servidor Alex Sandro de Proença”, consta em trecho do documento.
Assim, a investigação ainda indica que Pablo usa o pestígio político para “lotear” cargos no DAE VG.
“Consta ainda da representação, que Pablo Pereira é vereador em Várzea Grande e utiliza seu prestígio político e sua atuação parlamentar com o fim de lotear cargos públicos na Diretoria Comercial do Departamento de Água e Esgoto de Várzea Grande. Trata-se de padrinho político que sustenta e lastreia a manutenção de diversos servidores públicos corruptos na Diretoria Comercial da autarquia”, consta.
Entenda
A Gota D’Água cumpriu 123 mandados judiciais, entre prisões preventivas, busca e apreensão, suspensão de função pública, sequestro de bens e bloqueio de valores e medidas cautelares diversas.
A principal medida foi a determinação de intervenção imediata do Município de Várzea Grande na diretoria comercial do DAE, com o objetivo de restabelecer a prestação regular e efetiva do serviço público de abastecimento de água e esgoto, que foi cooptado pelo grupo criminoso.
Foram decretadas 11 prisões preventivas, entre elas a do vereador – que já está solto com uso de tornozeleira -; de Alex Sandro, que está foragido; e do Alessandro Macaúbas.
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